por LUZANTONIS

Espaços que geram palavras...

Thursday, July 09, 2015

Biblioteca Municipal de Stuttgart: Hermetismo e Abertura



Biblioteca Municipal de Stuttgart: Hermetismo e Abertura

Alemanha. Estado de Baden Wurttenberg. Cidade: Stuttgart, a capital, situada a 632 km de Berlim. Não muito longe da estação central, na praça Mailänder, avista-se o prédio da nova Biblioteca Municipal, a Stadtbibliothek, que impressiona pela extrema  simplicidade  de seu volume cúbico, marcado apenas pelo rigoroso ritmo das aberturas, pequenos balcões emoldurados por tijolos de vidro. As aparentes simplicidade e dureza da fachada, teria sido esta inclusive comparada a um complexo prisional, escondem uma espacialidade interna surpreendente e, à noite,  iluminado, o conjunto revela uma nova dimensão.

Já na entrada se pode aprender a experiência  a que o espaço da biblioteca se propõe. A aparente frieza dos materiais, com paredes e piso brancos, o mobiliário e estantes de linhas  retas especialmente projetado, pretende ser o pano de fundo para os verdadeiros  protagonistas, os livros, os únicos elementos que proporcionam as intensas notas de cor  ao espaço.

Um eixo central define a distribuição espacial dos oito pavimentos de acesso do público.  No térreo, um prisma central monumental com pequenas aberturas e uma pequena fonte, um ponto de água de 60  por 60 centímetros  no piso, articula os espaços de acesso inicial do público, onde estão localizados os serviços de informações gerais, áreas para a leitura dos jornais diários oferecidos e os pontos automáticos de devolução de empréstimos de livros e cds, além das circulações verticais.  Apesar de sua altura, que abrange os primeiros quatro pavimentos, o prisma não revela o espaço central interno localizado logo acima.

O grande espaço central interno articula os quatro pavimentos superiores ao prisma ou Herz (coração), que em torno deste e se desenvolvem. Os espaços de leitura se mesclam com as estantes e as circulações. Em todos os andares existem também salas de estudo individuais e coletivas. Todos os espaços tem se abrem para os balcões, de onde se pode apreciar diversas vistas da cidade. É quando se pode então apreender a experiência espacial , que inversamente induz o movimento de dentro para fora do edifício.

As escadas desempenham especial papel na circulação vertical, facilitando o acesso às coleções que foram distribuídas por temas elos andares: 1o, Música, 2o , Infantil, 3o, Vida, 4o, Conhecimento, 5o, Mundo,6o, Literatura e 8o, Arte. No 7o andar foram instaladas a Administração e  a Direção. A áreas dos pavimentos em torno do espaço central diminui a medida que se sobe, proporcionando a percepção simultânea de todos pavimentos.  A visão das escadas lembra as gravuras do holandês Escher (1898 - 1972), com o sobe  e desce intercalado ligando os diversos planos.  Esta distribuição facilita o escape.  Três elevadores dão ainda   suporte ao  transporte vertical. Entretanto, percebe-se que forma subdimensionados  para o intenso fluxo de público. Ainda existem dois pavimentos de subsolo.

A acessibilidade é total em todas as áreas públicas. Existe um acesso em cada um dos quatro lados do edifício  de 44 X 44 m, sem controle específico de entrada e saída de pessoas. O sistema de empréstimo possui com pontos automatizados de devolução diretamente ligado a um sistema de esteiras rolantes que transporta os volumes até os pavimentos.

No programa também funciona a Bibliothek für Schlaflose (biblioteca para insones), totalmente informatizada, que funciona 24 horas para empréstimo de livros e cds.

Fundada em 1901  a biblioteca ocupava desde 1965 o Palácio Wilhelm, construído no século XIX   e antiga residência  do monarca de Wurttemberg, Wilhelm II. Em 1999 foi realizado o concurso para o novo edifício, vencido pelo coreanoEun Young Yi.  As obras foram iniciadas em 2008, sendo inaugurada a biblioteca em outubro de 2011 ao custo de 79 milhões de euros.  A área total construída é de  20.225 m2, tendo o prédio capacidade para 500 mil volumes (1).



























Fotos Luiz Antonio Lopes de Souza
Fevereiro 2015.


[1]  Fonte: http://www1.stuttgart.de/stadtbibliothek/druck/nb/ZahlenundDaten.pdf


Monday, May 28, 2012


A diva no cruzamento



Veja es fotos em:



Munique, estação de bondes Effnerplatz. Sobre este cruzamento, onde abaixo passa  a via expressa do anel rodoviário leste,  ergue-se Mae West , o novo marco na paisagem da cidade. Construída justamente com esta finalidade, a escultura confere identidade  a um cruzamento de tráfego importante, mas desprovido de qualquer interesse como espaço.

A artista americana Rita McBride, a vencedora de um concurso de ideias para o local, concebeu uma forma hiperbolóide,  composta de 32 tubos de aço carbono, que evocam as curvas de uma forma feminina, lembrando a cintura da  diva do cinema  que lhe empresta o nome.  A proposta de McBride foi criar um “vazio escultórico” que pode ser experimentado pelos transeuntes e os passageiros dos bondes que por baixo dos tubos circulam.

O publico assumirá  então o papel de ajudar a construir a identidade do lugar a partir da ação de "transitar" pela obra, uma experiência em que , como arquitetura, a obra de arte assume o espaço em que se instala e interage com o tempo da cidade em que se situa.

Vídeo da construção:


A estrutura em aço carbono:


Rita McBride:


A diva Mae West:


Tuesday, April 24, 2012


Surpresa no telhado


Veja as fotos em :


Viena, março de 2012. A estação Wien Mitte e o ponto de partida para o CAT (City Airport Train), uma linha de trens urbanos que liga o centro diretamente com o aeroporto. A região atualmente passa por transformações. Edifícios oriundos da segunda metade do século XIX já dividem o espaço urbano com edifícios contemporâneos, alguns deles já se impõem como marcos, como o edifício City Tower  (Ortner & Ortner arquitetos, 2003).

Na espera pelo próximo trem, um passeio pelas redondezas revela  a região sem muitos atrativos marcada pelo traçado da cidade antiga, com regularidade  dos edifícios de inspiração beaux-arts de até cinco pavimentos. A surpresa acontece  na Marxerstrasse, quando olhando para o alto em um destes edifícios se descobre um acréscimo de dois pavimentos sobre quase toda a  área do telhado.

Até aqui nada de especial. Acréscimos deste tipo são permitidos na legislação de várias cidades,  no intuito de se estimular a renovação de áreas degradadas, por exemplo. Este, entretanto, chama  a atenção pela relação que estabelece com o original sobre o qual foi construído.

Apesar de sua volumetria obviamente se destacar por materiais contemporâneos, esquadrias de alumínio e vidro  de diversos tamanhos e recortes e o revestimento metálico(?) cinza, a nova  parte procura um “diálogo” com seu antecessor histórico. Seu volume acompanha ( ma non troppo)  a superfície chanfrada da esquina e parece querer “coroar”  o movimento vertical visualizado no todo. A contradição  se dá quando se tem a ilusão de que ele parece se projetar para a rua, ultrapassando o limite  da fachada clássica logo abaixo. O efeito é obtido através do truque de eliminar a área do primeiro pavimento sobre o telhado e deixando em balanço parte do segundo.

Infelizmente não foram até agora encontradas na rede referências sobre  este projeto e seu o seus autores.

Architektur in Wien, blog sobre arquitetura contemporânea  em Viena:


CAT Wien:


City Tower Wien:

http://www.austria-architects.com/en/projects/detail_thickbox/31043/plang:en-gb?iframe=true&width=850&height=99

Wednesday, April 04, 2012


Viena Vermelha



Veja as fotos em:


Na região norte da cidade,  estação de Heiligenstadt é  a última da linha U4 do metrô. Saltando ali se vislumbra a alguns passos uma grande construção que  faz lembrar uma cidadela moderna. A muralha vermelha de mais de um quilômetro de extensão trata-se na verdade de um dos mais importantes  ( e imponentes) exemplares de arquitetura habitacional da primeira  metade do século XX: o conjunto Karl Marx (Karl-Marx-Hof).

Ao término da Primeira Guerra Mundial Viena havia perdido seu status do capital do império habsburgo que havia ostentado até a virada do século. A população havia crescido em uma cidade industrial e empobrecida, sem condições dignas de  moradia .  O  novo regime levou ao poder o partido-social democrata, que implantaria  um novo conceito de política habitacional, com a construção de diversos conjuntos ,  a primeira experiência em grande escala de construção de habitações coletivas . Viena se tornaria então o campo para interessantes exercícios neste âmbito, cada um  expressando conceitos próprios sobre esta arquitetura, que hoje constituem marcos históricos no espaço urbano :

Arquiteto Hubert Gessner: Reumann Hof ( 1924-28); Karl Seitz Hof (1926-17).

Arquitetos Heinrich Schmid e Hermann Aichinger : Raben Hof (1927-28).

Arquiteto Josef Hoffmann: Klosehof (1923-25); Anton-Hölz-Hof (1938-32)

Projetado pelo arquiteto Karl Ehn (1884 - 1957) o conjunto Karl Marx foi construído entre 1927 e 1930, contando com 1382 apartamentos de  1 e 2 quartos distribuídos em  6 pavimentos em um único bloco. O volume central é voltado para uma praça e os dois laterais desenvolvem-se em volta de uma enorme área interna (Hof).

Destacam-se na fachada os recortes na volumetria obtidos pelos volumes da sacadas, diferenciados nos pavimentos, e os grandes arcos que conectam as vias públicas frontais e posteriores ao conjunto. Os eixos dos arcos  são marcados por esguias esculturas, únicos elementos decorativos  na rígida configuração geométrica . As empenas funcionam como frontões monumentais no coroamento da cobertura e o jogo de cores amarela e vermelha completa o tom expressionista do conjunto  na intenção de afirmação como marco da política socialista da época. O Karl Marx seria utilizado como barricada no combate contra os nazifacistas durante os anos trinta.

Restaurado no início dos anos oitenta do século XX, suas formas prenunciam propostas pós-modernas de arquitetos como Michael Graves, Aldo Rossi e Mário Botta.  Esta influência pode  também ser percebida nos projetos de Rob e Leon Krier na IBA Berlin 1987.

Outros conjuntos da época 

Mais sobre o conjunto Karl Marx:


Sobre Karl Ehn:


Sobre a Viena Vermelha:


Reportagem no Youtube:

Monday, December 19, 2011


O Rio Feio II

Memória perimetral




Esta e outras fotos em:


Com a demolição do elevado da Perimetral, o Rio de Janeiro perpetua o título de cidade do ”bota abaixo”. De tempos em tempos, marcos arquitetônicos  de eras desvalorizadas são radicalmente subtraídos da paisagem urbana em nome de um perene ideal de modernidade utilizado pelas classes políticas como sedutora moeda para a conquista  da  opinião pública.

Meu pai,  em uma  de nossas conversas de finais de semana, não conseguiu esconder a sua decepção com a confirmação da notícia da demolição. Octogenário engenheiro das eras getulista e juscelinista, ele se recorda  de que  na época  de sua construção a sexagenária Perimetral foi recebida como uma façanha tecnológica, o elo definitivo de ligação entre as  regiões norte e sul da cidade.  É verdade que próprio viaduto, em sua escala quilométrica, foi também instrumento de obliteração do passado, se  superpondo, por exemplo, à região do Cais da Prainha , arrasando  Mercado Municipal da Praça XV e mutilando visualmente  em sua subida a  antiga Casa do Trem (atual Museu Histórico Nacional).

 Hoje a Perimetral passa a pertencer  ao grupo de homúnculos que obstrui o avanço da cidade em sua eterna busca de auto-afirmação no cenário mundial. Os seus predicados de outrora não são levados em consideração. O viaduto tido como feio, pesado, desvaloriza a região do Cais do Porto e até prejudica o fluxo do trânsito. A sua remoção passou a ser vital para o desenvolvimento local, na perspectiva da  Copa e dos Jogos Olímpicos. A memória do que a Perimetral foi um dia nada mais representa e, lamentavelmente, não justifica a sua preservação no tecido urbano. A ela será negada condição de patrimônio arquitetônico da cidade. É inevitável  a lembrança da abertura da antiga Avenida Central  (atual Rio Branco) a pouco mais de cem anos, quando estes mesmos valores ( ou a falta deles?)  já  norteavam a evolução do espaço urbano carioca.

Poucas foram as manifestações, apenas algumas a nível acadêmico, contrárias à demolição do elevado.  Em tempos de preocupação com emissões de  carbono e preservação de recursos naturais,  é evidente que esta ação irá custar  uma enormidade em termos de consumo energético. A  este aspecto está sendo superposto o discurso positivista  do desenvolvimento e da geração de empregos e de lucro, sempre tido como justificativa  irrefutável para o desgaste  que uma ação desta magnitude representa.

Perde-se então mais uma vez a oportunidade de ser tomar uma atitude para com a cidade em conformidade com a sua memória. A Perimetral  espelha em  sua presença os ideais de uma era e só isso já justificaria  a sua preservação.  O fato de ela constituir um provável obstáculo aos planos de desenvolvimento configura sim o desafio estimulante de introduzi-la neste processo,  para que ela possa vir a ser integrante da nova imagem do Cais do Porto. Propostas não faltam, e, levando em consideração as diferenças geoeconômicas, alguns exemplos de intervenção semelhantes  feitas no exterior comprovam a viabilidade da preservação da Perimetral como estrutura viva e participante na modernização da infra-estrutura urbana.  

Sobre a história da Perimetral:


O Highline Park em Nova York, exemplo de proposta de uso alternativo para este tipo de espaço:

Wednesday, December 14, 2011


Porto Contemporâneo



Vejas as fotos em:


Hamburgo, Alemanha. No estuário do rio Elba, a região  do antigo porto da cidade vem sendo nos últimos anos o laboratório de uma extensa renovação urbana.  Originalmente constituído por ilhas de armazéns  entrecortadas por canais navegáveis,  a antiga Speicherstadt ainda conserva  a  as características das construções de tijolo aparente,  identidade histórica da região.

A redução, nas últimas décadas, das atividades do antigo porto livre de Hamburgo possibilitou a implantação no local  de um projeto urbanístico de grande escala: Hafencity (Hafen= porto) , que definiu a nova vocação da região para   empreendimentos residenciais e comerciais.  O antigos canais do porto agora abrigam marinas para as quais se voltam os  novos edifícios, de marcante personalidade arquitetônica . Os projetos são em sua maioria de escritórios de arquitetura  de Hamburgo, e competem entre si na busca de uma expressividade que os confirme como marcos arquitetônicos da nova região.

Situado  no banco fronteiriço do antigo porto, onde começam os dois principais canais de Hafencity,  está  também  em fase de conclusão o gigantesco  edifício da Filarmônica de Hamburgo.  A Elbphilarmonie, projeto dos suiços Herzog & de Meuron,  está sendo construída  aproveitando o volume do antigo armazém  existente no local, o Kaiserspeicher, sobre o qual está sendo instalada a sua principal sala de concerto.  O contraste entre  dois momentos  do edifício, faz menção aos dois momentos da área, o porto dos séculos XIX e XX e moderno e iluminado Stadtteil do século XXI.

Fotos de  fevereiro  de 2010.

Mais sobre Hafencity:


Mais sobre Filarmônica de Hamburgo:


Filarmônica de Hamburgo, interessante vídeo da construção:


Tuesday, October 18, 2011


Memórias  Pós-modernas II

Mario Botta  em Berlim



Veja as fotos em:

Me lembro que em sua palestra no Salão Azul da FAU o suíço Botta definiu arquitetura como uma intervenção no território, a ação transformadora do homem sobre a natureza. Naquela época víamos as primeiras imagens de seus projetos  como o da  Casa em Riva San Vitale, construída sobre as encostas  do lago Lugano, no cantão Ticino.  Os seus objetos arquitetônicos  me causavam um certo estranhamento: como naves espaciais ( aquelas da NASA ) pousavam sobre o solo mal tocando a terra uma relação de identidade e ao mesmo de distanciamento (repeito?) com o meio ambiente a ser modificado por sua presença.

Herdeiro do racionalismo de Le Corbusier e discípulo  do célebre Louis Kahn, Mario Botta desenvolveu sua linguagem na direção dos grandes planos verticais, com grandes aberturas que se abriam em sólidos cortinados  de ritmos definidos pela disposição dos tijolos aparentes. A ação transformadora assumia então a sua bagagem histórica, com o coroamento dos burgos medievais.

Na  Lützowplatz , esses conceitos são excercitados na escala da quadra berlinense. Os planos verticais são trabalhados pelo ritmo da alvenaria de tijolo tão típica  na obra do arquiteto a partir da década de 80. O pequeno edifício de apartamentos de 1987 é vizinho de outros statements arquitetônicos como o de Peter Cook, bem ao  lado. Sua fachada é composta por dois planos que tem o quadrado passo modular do seu desenvolvimento. Esses dois planos são interrompidos na esquina, onde o arquiteto “permite “ o descortinamento de uma parte programa interno ,  revelando varandas convexas , que fazem uma certa reverência aos planos e contraplanos de Borromini.

O acesso principal é marcado por duas colunas simétricas que arrematam simbolicamente a transposição entre as duas camadas da fachada: a cortina de tijolos no plano externo e película em preto e branco coma s esquadrias  no plano interno.

Mario Botta:


Botta em Berlim:

Botta no Brasil (1983):