por LUZANTONIS

Espaços que geram palavras...

Thursday, September 08, 2011

O Rio feio  I


Veja as fotos em:

https://picasaweb.google.com/luzantonis/ORioFeio_Passeio?authkey=Gv1sRgCMz9-N6x66jhpgE#




Existem alguns lugares do Rio que não fazem justiça ao seu título de “cidade maravilhosa”. Locais onde os monumentos e a história foram esquecidos e quase desaparecem no caos urbano reinante. Sua beleza e presença passam despercebidas em meio a um ambiente degradado e que perde cada vez mais sua identidade. A cidade perde então a sua memória e com ela um pouco de si mesma.

Rua do Passeio, uma das vias que, junto com a rua Evaristo da Veiga, fazem a ligação da Lapa com a Cinelândia. O tráfego de veículos é intenso, principalmente de ônibus. Diversas linhas têm ali, na calçada do Passeio Público, o ponto final. Os ônibus estacionados em bloco e as filas de passageiros obstruem a visão de um dos mais belos jardins da cidade, o mais antigo do Brasil, protegido hoje pelas barras do imponente gradil de ferro fundido. Mais adiante o pórtico de entrada de linhas rococós é coroado pelo medalhão com as efígies dos monarcas de Portugal, D. Maria I e D. Pedro III, uma preciosidade que chama pouca atenção dos passantes apressados.

Do outro lado rua, o edifício do Automóvel Clube (o antigo Cassino Fluminense de Manuel de Araújo Porto Alegre, 1860), fechado há anos e coberto de pichações, é o último exemplar remanescente da arquitetura do século XIX. A entrada principal em arco, com o portão coberto por tapumes, conserva marquise em ferro trabalhado decorada com delicados relevos e pequenos ornamentos em forma de conchas. Ao lado do edifício, opulentas mísulas sustentam a colunata da fachada da Escola de Música, erguida no local onde até 1910 ficava a Biblioteca Nacional.

Os desenhos da calçada de pedras portuguesas, tantas vezes refeita, são o alfabeto de uma língua desconhecida e misteriosa, cujos vestígios quase ilegíveis persistem como marcas de um passado perdido sobre o solo. Uma loja de artigos 1 e 99 avança com suas mercadorias coloridas no espaço da calçada: lembramos por um estante do Rio. Um relógio digital, desses com publicidade, foi fincado bem no meio da calçada, tonteando um pouco mais os sentidos de percurso.

Uma ruína de linhas art déco ( hoje um estacionamento) inicia a sucessão de fachadas dos altos edifícios comerciais que alteraram a escala original da nobre rua do Passeio, com suas esquadrias de alumínio e vidro. Após a rua das Marrecas a calçada é tomada por bancas de camelôs: lembramos do Rio. A desarrumação visual toma conta, arrematada pelas capas de revista das onipresentes bancas de jornal, verdadeiros imóveis comerciais que invadem predatoriamente o espaço de passagem. O percurso é espremido no pouco espaço disponível, situação que é ironicamente suavizada por outro obstáculo: os andaimes tubulares que há tempos cobrem a fachada do antigo edifício da Mesbla (hoje Lojas Americanas), ícone art déco do centro.

A esquina da rua Senador Dantas, anuncia o início da Cinelândia. Ali a fachada do antigo Cinema Palácio foi restaurada há não muito tempo. Hoje fechado, a sua marquise deteriorada foi tomada por camelôs e as colunas com “gomos” de mármore da entrada principal são emolduradas por tapumes e pichações. Apesar de fustigada, a fachada ainda chama a atenção com suas com suas janelas e as pequenas torres em estilo mourisco, que proporcionam um pouco de fantasia e recuperam em pequenos flashes a imagem de um passado reluzente, perdido em algum lugar no tempo da cidade.

Mais sobre o Passeio Público:

http://www.passeiopublico.com/index2.htm

Mais sobre o Cassino fluminense de Araújo Porto Alegre (texto do Prof. Nireu Cavalcanti):

http://revistamuseologiaepatrimonio.mast.br/index.php/ppgpmus/article/viewFile/9/21

Mais sobre art déco no Rio:

http://www.artdecobrasil.com/

Mais sobre o Cinema Palácio:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Cine_Pal%C3%A1cio