por LUZANTONIS

Espaços que geram palavras...

Monday, December 19, 2011


O Rio Feio II

Memória perimetral




Esta e outras fotos em:


Com a demolição do elevado da Perimetral, o Rio de Janeiro perpetua o título de cidade do ”bota abaixo”. De tempos em tempos, marcos arquitetônicos  de eras desvalorizadas são radicalmente subtraídos da paisagem urbana em nome de um perene ideal de modernidade utilizado pelas classes políticas como sedutora moeda para a conquista  da  opinião pública.

Meu pai,  em uma  de nossas conversas de finais de semana, não conseguiu esconder a sua decepção com a confirmação da notícia da demolição. Octogenário engenheiro das eras getulista e juscelinista, ele se recorda  de que  na época  de sua construção a sexagenária Perimetral foi recebida como uma façanha tecnológica, o elo definitivo de ligação entre as  regiões norte e sul da cidade.  É verdade que próprio viaduto, em sua escala quilométrica, foi também instrumento de obliteração do passado, se  superpondo, por exemplo, à região do Cais da Prainha , arrasando  Mercado Municipal da Praça XV e mutilando visualmente  em sua subida a  antiga Casa do Trem (atual Museu Histórico Nacional).

 Hoje a Perimetral passa a pertencer  ao grupo de homúnculos que obstrui o avanço da cidade em sua eterna busca de auto-afirmação no cenário mundial. Os seus predicados de outrora não são levados em consideração. O viaduto tido como feio, pesado, desvaloriza a região do Cais do Porto e até prejudica o fluxo do trânsito. A sua remoção passou a ser vital para o desenvolvimento local, na perspectiva da  Copa e dos Jogos Olímpicos. A memória do que a Perimetral foi um dia nada mais representa e, lamentavelmente, não justifica a sua preservação no tecido urbano. A ela será negada condição de patrimônio arquitetônico da cidade. É inevitável  a lembrança da abertura da antiga Avenida Central  (atual Rio Branco) a pouco mais de cem anos, quando estes mesmos valores ( ou a falta deles?)  já  norteavam a evolução do espaço urbano carioca.

Poucas foram as manifestações, apenas algumas a nível acadêmico, contrárias à demolição do elevado.  Em tempos de preocupação com emissões de  carbono e preservação de recursos naturais,  é evidente que esta ação irá custar  uma enormidade em termos de consumo energético. A  este aspecto está sendo superposto o discurso positivista  do desenvolvimento e da geração de empregos e de lucro, sempre tido como justificativa  irrefutável para o desgaste  que uma ação desta magnitude representa.

Perde-se então mais uma vez a oportunidade de ser tomar uma atitude para com a cidade em conformidade com a sua memória. A Perimetral  espelha em  sua presença os ideais de uma era e só isso já justificaria  a sua preservação.  O fato de ela constituir um provável obstáculo aos planos de desenvolvimento configura sim o desafio estimulante de introduzi-la neste processo,  para que ela possa vir a ser integrante da nova imagem do Cais do Porto. Propostas não faltam, e, levando em consideração as diferenças geoeconômicas, alguns exemplos de intervenção semelhantes  feitas no exterior comprovam a viabilidade da preservação da Perimetral como estrutura viva e participante na modernização da infra-estrutura urbana.  

Sobre a história da Perimetral:


O Highline Park em Nova York, exemplo de proposta de uso alternativo para este tipo de espaço:

Wednesday, December 14, 2011


Porto Contemporâneo



Vejas as fotos em:


Hamburgo, Alemanha. No estuário do rio Elba, a região  do antigo porto da cidade vem sendo nos últimos anos o laboratório de uma extensa renovação urbana.  Originalmente constituído por ilhas de armazéns  entrecortadas por canais navegáveis,  a antiga Speicherstadt ainda conserva  a  as características das construções de tijolo aparente,  identidade histórica da região.

A redução, nas últimas décadas, das atividades do antigo porto livre de Hamburgo possibilitou a implantação no local  de um projeto urbanístico de grande escala: Hafencity (Hafen= porto) , que definiu a nova vocação da região para   empreendimentos residenciais e comerciais.  O antigos canais do porto agora abrigam marinas para as quais se voltam os  novos edifícios, de marcante personalidade arquitetônica . Os projetos são em sua maioria de escritórios de arquitetura  de Hamburgo, e competem entre si na busca de uma expressividade que os confirme como marcos arquitetônicos da nova região.

Situado  no banco fronteiriço do antigo porto, onde começam os dois principais canais de Hafencity,  está  também  em fase de conclusão o gigantesco  edifício da Filarmônica de Hamburgo.  A Elbphilarmonie, projeto dos suiços Herzog & de Meuron,  está sendo construída  aproveitando o volume do antigo armazém  existente no local, o Kaiserspeicher, sobre o qual está sendo instalada a sua principal sala de concerto.  O contraste entre  dois momentos  do edifício, faz menção aos dois momentos da área, o porto dos séculos XIX e XX e moderno e iluminado Stadtteil do século XXI.

Fotos de  fevereiro  de 2010.

Mais sobre Hafencity:


Mais sobre Filarmônica de Hamburgo:


Filarmônica de Hamburgo, interessante vídeo da construção:


Tuesday, October 18, 2011


Memórias  Pós-modernas II

Mario Botta  em Berlim



Veja as fotos em:

Me lembro que em sua palestra no Salão Azul da FAU o suíço Botta definiu arquitetura como uma intervenção no território, a ação transformadora do homem sobre a natureza. Naquela época víamos as primeiras imagens de seus projetos  como o da  Casa em Riva San Vitale, construída sobre as encostas  do lago Lugano, no cantão Ticino.  Os seus objetos arquitetônicos  me causavam um certo estranhamento: como naves espaciais ( aquelas da NASA ) pousavam sobre o solo mal tocando a terra uma relação de identidade e ao mesmo de distanciamento (repeito?) com o meio ambiente a ser modificado por sua presença.

Herdeiro do racionalismo de Le Corbusier e discípulo  do célebre Louis Kahn, Mario Botta desenvolveu sua linguagem na direção dos grandes planos verticais, com grandes aberturas que se abriam em sólidos cortinados  de ritmos definidos pela disposição dos tijolos aparentes. A ação transformadora assumia então a sua bagagem histórica, com o coroamento dos burgos medievais.

Na  Lützowplatz , esses conceitos são excercitados na escala da quadra berlinense. Os planos verticais são trabalhados pelo ritmo da alvenaria de tijolo tão típica  na obra do arquiteto a partir da década de 80. O pequeno edifício de apartamentos de 1987 é vizinho de outros statements arquitetônicos como o de Peter Cook, bem ao  lado. Sua fachada é composta por dois planos que tem o quadrado passo modular do seu desenvolvimento. Esses dois planos são interrompidos na esquina, onde o arquiteto “permite “ o descortinamento de uma parte programa interno ,  revelando varandas convexas , que fazem uma certa reverência aos planos e contraplanos de Borromini.

O acesso principal é marcado por duas colunas simétricas que arrematam simbolicamente a transposição entre as duas camadas da fachada: a cortina de tijolos no plano externo e película em preto e branco coma s esquadrias  no plano interno.

Mario Botta:


Botta em Berlim:

Botta no Brasil (1983):

Sunday, October 16, 2011

Memórias Pós-modernas I



Aldo Rossi em Berlim



Veja as fotos em:

https://picasaweb.google.com/luzantonis/MemoriasPosmod?authkey=Gv1sRgCLfhhq6atZyOnwE#

Nos tempos de faculdade sopravam os ventos do pós-moderno, e com eles a fascinação pelos desenhos de Aldo Rossi, publicados no livro “Depois da arquitetura moderna “ de Paolo Portoghesi, na edição em espanhol da Gustavo Gilli, uma espécie de cartilha para o rito de iniciação à arquitetura contemporânea da época, no caso o início dos anos oitenta do século XX. O traço do italiano, rabiscos nervosos de formas geométricas simplificadas, mas em extrema sintonia com proporções áureas clássicas, lembravam os cenários das pinturas pré-surrealistas de De Chirico, onde musas estéreis se colocavam como amontoados sólidos em uma árida paisagem castelar.

Árida. Essa sempre foi minha principal percepção da obra de Rossi, com seus volumes simplificados e repetições exaustivas de uma geometria rigorosa e proporcionada, mas mesmo assim atraente e com uma vocação para o monumental, como nas imagens do Teatro Del Mundo, do mesmo livro.

O conjunto da Schützenstrasse se trata de um Rossi tardio (1994-98). Mesmo assim configura-se ali um momento em que a obra do arquiteto assume sua forma completa. Os conceitos do pós-moderno estão todos ali: contradição, diversidade na repetição, identidade, volumetria exacerbada e ... referências históricas. Trata-se de um complexo misto residencial e de escritórios, ocupando toda uma quadra e com três pátios internos de circulação. As intensas ( e em algumas momentos artificiais) cores conferem identidade a toda a quadra,unificando os diversos materiais de revestimentos destacando a volumetria.

O ponto alto da composição é a reconstrução que Rossi faz da fachada renascentista do Palácio Farnese de Roma  (Antonio Sangallo, 1516). A imagem clássica se insere no ritmo colorido das fachadas como uma referência ao papel histórico da arquitetura ano espaço da cidade.

Na esquina de Kochstrasse e Wilhelmstrasse encontra-se outro exemplo da linguagem geometrizada de Rossi ( com Giani Braghieri, 1986/87). Na fachada do conjunto de apartamentos e escritórios está mais explicito o jogo compositivo da formas: quadrados e triângulos em uma repetição rítmica que é espetacularmente interrompida na esquina, onde implanta uma gigantesca coluna cilíndrica ( aparentemente sem função). A presença deste elemento subverte a ordem e a regularidade na relação do objeto arquitetônico com a rua: complexidade e contradição no espaço da cidade pós-moderna (ver Robert Venturi).

Aldo Rossi:

http://en.wikipedia.org/wiki/Aldo_Rossi

Schützenstrasse:

http://www.arcspace.com/architects/Rossi/schutzenstrasse.html

“Aldo Rossi : drawings and paintings “( livro online):

http://books.google.com.br/books?id=91085LwYaQkC&pg=PA213&lpg=PA213&dq=Aldo+Rossi+Kochstrasse+e+Wilhelmstrasse&source=bl&ots=Gflvv-mh3d&sig=zz1wTZRzcV0KlTAd6K-dKjLEdfc&hl=pt-BR&e

Arquitetura em Berlim:

http://www.architectureinberlin.com/

Thursday, September 08, 2011

O Rio feio  I


Veja as fotos em:

https://picasaweb.google.com/luzantonis/ORioFeio_Passeio?authkey=Gv1sRgCMz9-N6x66jhpgE#




Existem alguns lugares do Rio que não fazem justiça ao seu título de “cidade maravilhosa”. Locais onde os monumentos e a história foram esquecidos e quase desaparecem no caos urbano reinante. Sua beleza e presença passam despercebidas em meio a um ambiente degradado e que perde cada vez mais sua identidade. A cidade perde então a sua memória e com ela um pouco de si mesma.

Rua do Passeio, uma das vias que, junto com a rua Evaristo da Veiga, fazem a ligação da Lapa com a Cinelândia. O tráfego de veículos é intenso, principalmente de ônibus. Diversas linhas têm ali, na calçada do Passeio Público, o ponto final. Os ônibus estacionados em bloco e as filas de passageiros obstruem a visão de um dos mais belos jardins da cidade, o mais antigo do Brasil, protegido hoje pelas barras do imponente gradil de ferro fundido. Mais adiante o pórtico de entrada de linhas rococós é coroado pelo medalhão com as efígies dos monarcas de Portugal, D. Maria I e D. Pedro III, uma preciosidade que chama pouca atenção dos passantes apressados.

Do outro lado rua, o edifício do Automóvel Clube (o antigo Cassino Fluminense de Manuel de Araújo Porto Alegre, 1860), fechado há anos e coberto de pichações, é o último exemplar remanescente da arquitetura do século XIX. A entrada principal em arco, com o portão coberto por tapumes, conserva marquise em ferro trabalhado decorada com delicados relevos e pequenos ornamentos em forma de conchas. Ao lado do edifício, opulentas mísulas sustentam a colunata da fachada da Escola de Música, erguida no local onde até 1910 ficava a Biblioteca Nacional.

Os desenhos da calçada de pedras portuguesas, tantas vezes refeita, são o alfabeto de uma língua desconhecida e misteriosa, cujos vestígios quase ilegíveis persistem como marcas de um passado perdido sobre o solo. Uma loja de artigos 1 e 99 avança com suas mercadorias coloridas no espaço da calçada: lembramos por um estante do Rio. Um relógio digital, desses com publicidade, foi fincado bem no meio da calçada, tonteando um pouco mais os sentidos de percurso.

Uma ruína de linhas art déco ( hoje um estacionamento) inicia a sucessão de fachadas dos altos edifícios comerciais que alteraram a escala original da nobre rua do Passeio, com suas esquadrias de alumínio e vidro. Após a rua das Marrecas a calçada é tomada por bancas de camelôs: lembramos do Rio. A desarrumação visual toma conta, arrematada pelas capas de revista das onipresentes bancas de jornal, verdadeiros imóveis comerciais que invadem predatoriamente o espaço de passagem. O percurso é espremido no pouco espaço disponível, situação que é ironicamente suavizada por outro obstáculo: os andaimes tubulares que há tempos cobrem a fachada do antigo edifício da Mesbla (hoje Lojas Americanas), ícone art déco do centro.

A esquina da rua Senador Dantas, anuncia o início da Cinelândia. Ali a fachada do antigo Cinema Palácio foi restaurada há não muito tempo. Hoje fechado, a sua marquise deteriorada foi tomada por camelôs e as colunas com “gomos” de mármore da entrada principal são emolduradas por tapumes e pichações. Apesar de fustigada, a fachada ainda chama a atenção com suas com suas janelas e as pequenas torres em estilo mourisco, que proporcionam um pouco de fantasia e recuperam em pequenos flashes a imagem de um passado reluzente, perdido em algum lugar no tempo da cidade.

Mais sobre o Passeio Público:

http://www.passeiopublico.com/index2.htm

Mais sobre o Cassino fluminense de Araújo Porto Alegre (texto do Prof. Nireu Cavalcanti):

http://revistamuseologiaepatrimonio.mast.br/index.php/ppgpmus/article/viewFile/9/21

Mais sobre art déco no Rio:

http://www.artdecobrasil.com/

Mais sobre o Cinema Palácio:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Cine_Pal%C3%A1cio

Wednesday, August 24, 2011

A torre na neve



Veja as fotos em: https://picasaweb.google.com/luzantonis/TorreEinstein?authkey=Gv1sRgCPvKjbqm68vDJg#


Potsdam, fevereiro de 2010. Naquela manha havia tomado o trem cedo em Savignyplatz, estação pertinho do Hotel Cortina em Berlim. O meu plano era voltar a Potsdam para tentar conhecer um dos edifícios decisivos para a história da arquitetura moderna. Após mais ou menos uma hora desci na simpática estação da cidade, transformada em shopping, como a maioria das estações de trem na Alemanha hoje. Como só dispunha de algumas informações em guias de arquitetura, tive que me dirigir ao balcão de informações. Para minha surpresa, meu destino não ficava muito longe, dava para ir a pé.

Após alguns minutos cheguei à entrada no Instituto de Astrofísica de Potsdam, a instituição ocupa diversos prédios em um parque que se espalha por uma grande colina. Absolutamente ninguém pelo caminho nevado. Não: apenas o guarda na guarita, que nem se mexeu com a minha chegada. Perguntei se a Torre Einstein ficava naquela direção. Estava no caminho certo, mas nem precisava. Os edifícios dos laboratórios e observatórios são muito interessantes, todos do século XIX, com aquele ar científico-romântico, em tijolos aparentes e uma discreta ornamentação orientalizante. Veio-me na hora a imagem da Fiocruz.

Já estava caminha do há quase uma hora quando enfim pude ver a torre, lá no fundo da colina, solitária no meio da floresta nevada. O arquiteto Erich Mendelsohn a projetou para o próprio Albert Einstein, que lhe conferiu um título que ficaria para nomenclatura da história da arquitetura: “orgânica”. Concluída em 1922 ( regula com a Semana de Arte Moderna em São Paulo), sua forma ondulante e energética nos informa imediatamente da sua missão como arquitetura: observar o sol. Observando suas reentrâncias de volumes e formas das aberturas, me pergunto até que ponto o edifício tem um pé no Judendstil, apesar de sua classificação como “arquitetura expressionista”. Mas o que conta é que, construída no início do século XX a torre é detentora de uma das características estéticas mais caras: a atemporalidade.

Sobre Erich Mendelsohn:

http://www.infopedia.pt/$erich-mendelsohn

Instituto de astrofísica de Potsdam:

http://www.aip.de/en?set_language=en


Thursday, July 28, 2011

Mochilas dissidentes




Veja as fotos em:

https://picasaweb.google.com/luzantonis/AiWeiwei?authkey=Gv1sRgCM6XhcDditnfXw#


Munique, fevereiro de 2010. Na fachada centro cultural Haus der Kunst, 9 mil mochilas coloridas. Com o título “Remembering”, a instalação fez parte da exposição “ So sorry” do chinês Ai Weiwei, o mais proeminente artista chinês da atualidade. A obra evocou as vítimas do terremoto ocorrido na província de Sichuan em 2008. A inscrição em mandarim “ela viveu feliz nesta terra por sete anos” foi a frase dita pela mãe uma das milhares de crianças mortas na tragédia. A investigação do artista expos o efeito da corrupção no desmoronamento de escolas que levaram morte de mais de 5 mil crianças. Segundo seus colaboradores, por sua ação o dissidente Weiwei teria sido surrado pela polícia chinesa, o que lhe causou um derrame cerebral. O artista foi operado no hospital Klinikum Großhadern de Munique, tendo sido o evento amplamente coberto pela mídia.

Convidado para o cargo de professor residente na Universidade de Berlim, Ai Weiwei foi recentemente libertado após meses preso em seu país sob uma suposta  acusação de sonegação de impostos. O fato foi alvo protestos da comunidade artística internacional.

Ainda em 2010 o artista expos no Turbine Hall da galeria Tate Modern em Londre “ Sunflower seeds”: 100 milhões de sementes de girassol de porcelana pintadas uma a uma por artesãos chineses. O trabalho levou cerca de dois anos para ser produzido.

Videos de “Remembering”:

http://www.youtube.com/watch?v=b1NZOtFWZD8

http://www.youtube.com/watch?v=iYFlItlRfKs

Haus der Kunst de Munique:

http://www.hausderkunst.de/

Video “Sunflower seeds” (imperdível):

http://www.youtube.com/watch?v=PueYywpkJW8

Wednesday, July 20, 2011

Kinocidade



Veja as fotos em : https://picasaweb.google.com/luzantonis/KINOCIDADE?authkey=Gv1sRgCOiwwv6x9pC3jQE#



Berlim, fevereiro de 2010. As luzes da moderna Potsdamer Platz iluminam o Festival de Cinema. A cidade renovada da era pós-reunificação pretende confirmar-se como metrópole cultural de envergadura mundial. O evento de mídia se faz visível através de retratos dos astros de cinema homenageados (obras do fototógrafo Gerhard Kassner ) impressos em outdoors espalhados pela cidade. São apenas imagens, sem nenhum texto, o close-up do artista que nos encara sedutoramente através da câmera publicitária.

Observo os outdoors inseridos no caos urbano. As imagens revelam uma nova dimensão de fuga da cidade, em um fuga(z) instante de sonho através daqueles olhares que silenciosamente contracenam com o tempo da cidade.

(fica aqui o convite para a brincadeira de identificar as celebridades retratadas)


Mais de Posdamer Platz em:

http://www.potsdamerplatz.de/en.html

http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/06.071/365

Mais do Festival de Berlim em:

http://www.berlinale.de/en/HomePage.html

As fotos de Gerhard Kassner :

http://www.berlinale.de/en/visuals/starportraits_visuals/Starportraits.php

Monday, June 06, 2011

A trama na muralha




Veja o álbum com mais fotos em:

https://picasaweb.google.com/luzantonis/SalvatorGarage?authkey=Gv1sRgCNajyL_kpoyVLw&feat=email#


Na parte central de Munique, bem próximo à Odeonsplatz e ao palácio Residenz, preserva-se discretamente entre prédios de empresas e repartições públicas um dos últimos testemunhos das muralhas da cidade. Neste local existia a antiga Jungfernturm (torre da virgem) , erguida em 1493 e demolida em 1804.

Nos anos sessenta do século XX foi ali construído um edifício para vagas de estacionamento, a Salvator Garage, assim denominada pela proximidade com a Igreja do Salvador logo em frente. O arquiteto Franz Hart incorporou da velha muralha contígua o ritmo dos tijolos maciços, em uma composição sóbria, marcada pelo ritmo das esguias aberturas na superfície da fachada, conferindo ao prédio um ar de fortaleza espremida entre as estreitas ruas circundantes.

Em 2006 o acréscimo de dois pavimentos projetado por Peter Haimerl coroou o conjunto com uma nova identidade. Trata-se de uma trama metálica gerada por computador a partir das proporções do edifício original. Ela circunda todo o edifício, abrigando o pátio do pavimento superior de onde se experimenta uma bela vista da cidade.

O evidente contraste do novo elemento com a massa de tijolos provoca um diálogo contraditório entre as partes. A trama funciona como uma espécie de “coroa de espinhos” sobre a muralha logo abaixo e chama a atenção para o significado de sua sobrevivência, lembrada como patrimônio e, esquecida como parede de uma garagem, ao mesmo tempo perdida no meio da cidade moderna.

O projeto recebeu em 2008 o prêmio “Denkmalschutz und Neues Bauen” ( Preservação do Patrimônio e Novas Construções ) da cidade de Munique.

Salvator Garage, imagens e resenhas na web:

http://www.flickr.com/photos/gerowortmann/959820659/in/photostream/

http://architecture.mapolismagazin.com/content/parking-style-–-salvator-parking-garage

Página de Peter Haimerl:

http://www.urbnet.de/

http://www.urbnet.de/images/salvatorgarage.pdf

Sunday, May 29, 2011

Um intervalo em Munique

Veja mais fotos no álbum em :

https://picasaweb.google.com/luzantonis/Harras?authkey=Gv1sRgCMuCiMHA5KODeg#




Em Munique, o Harras não pode ser propriamente chamado de uma praça. É o espaço de entroncamento de ruas entre as zonas sul, oeste e o centro da cidade. Diversas linhas de ônibus têm ali o seu ponto final, precisamente integradas com a estação de metrô logo abaixo (linha U6) e as linhas de trens suburbanos. Em volta, pequenos edifícios comerciais, o supermercado Edeka, o Macdonald’s, uma agencia dos correios. Um lugar de passagem , rápido intervalo na tessitura urbana.

No curto tempo ente o metrô e o próximo ônibus observo as fachadas dos edifícios em volta do Harras. Conservam-se ali algumas dos tempos em que o local ainda era uma estação de bondes , hoje substituídos pelos ônibus. Sua discreta decoração expressa uma sintonia com o Art Nouveu, seja através de delicados relevos com formas vegetais, ou até mesmo de uma quimera ( um dragão?). Esta certamente faz menção ao Atelier Elvira, marco do Jugendstil alemão na cidade, destruído na 2ª Grande Guerra. Também podem ser vistos motivos de uma típica identidade bávara: as risonhas moças acima dos beirais das janelas.

Um vídeo no Harras:

http://wn.com/Abendliche_Hektik_am_Harras_M%C3%BCnchen

Sobre o Atelier Elvira:

http://www.johncoulthart.com/feuilleton/2008/04/05/atelier-elvira/

http://en.wikipedia.org/wiki/Hofatelier_Elvira

http://www.bildindex.de/?+pgesamt:%27Atelier%27%20+pgesamt:%27Elvira%27#0

Jugendstil:

http://en.wikipedia.org/wiki/Art_Nouveau


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Saturday, May 21, 2011

A catedral intangível




Veja o álbum com mais fotos em :

https://picasaweb.google.com/luzantonis/ACatedralIntangivel?authkey=Gv1sRgCNSN1MPq2OTKDg#


Colônia, fevereiro de 2011. Fotografar a Catedral munido de uma Canon Powershot é um desafio que pode tornar-se frustrante quando vislumbramos a imensidão deste monumento. Mas esta deve ser uma tarefa difícil para qualquer fotógrafo, mesma com uma câmera cheia de recursos. Percebo então as “modestas” dimensões da cidade diante da escala desta montanha gótica. A linha vertical almeja aqui o infinito, assumindo o verdadeiro sentido da elevação religiosa.

Afasto-me mais e mais, na tentativa de enquadrar por completo o edifício. Observo que as ruas ao seu redor são caminhos um tanto apertados para uma cidade alemã, o que no fim de inverno reforça a sensação de melancolia. Onde está o sol? Volto-me e vejo que ele faz falta sobre a massa escura de pedra dos campanários.

Retorno e passeio em volta do edifício, praça/esplanada é o espaço para apresentações de rua e obviamente muitos, muitos turistas. Próximos estão o Museu Ludwig, a Sala Filarmônica e o Museu Romano. Me lembro da história da construção, interrompida no século XVI e retomada com a vinda das “relíquias dos reis magos”( o relicário encontra-se hoje exposto no subsolo com os tesouros da igreja). As obras de completamento e iriam tornar-se a maior ação de patrimônio do século XIX e foram concluídas 1880. O edifício conseguiu resistir à destruição da Segunda Guerra Mundial. Observo ainda através das imensas janelas do subsolo o ateliê de conservação da arquitetura, em uma escala proporcional à dimensão do monumento.

Caminho então pelo interior do templo, um espaço verdadeiramente público, praticamente uma extensão da esplanada entre a estação de trem e o metrô. Aqui o tempo da cidade também não para. A luz dos vitrais é o silêncio. Dentre eles me chama a atenção aquele de uma janela no transepto, tão simples em sua geometria (apenas um quadriculado colorido) que se torna uma ousadia no espaço sagrado. Mais tarde iria descobrir pelo Gerard que se trata de uma obra de Gerhard Richter,  ofercido por doação, e que causou certa polêmica na época de sua execução. O vitral foi duramente criticado pelo arcebispo Joachim Kardinal Meisner, que  o considerou mais adequado para uma mesquita do que para uma catedral.

Página da Catedral de Colônia:

http://www.koelner-dom.de/

Página de Gehard Richter:

http://www.gerhard-richter.com/

Saturday, May 14, 2011

Ruínas e arte em Colônia



Veja o álbum com mais  fotos em

https://picasaweb.google.com/luzantonis/KolumbaMuseum?authkey=Gv1sRgCIzCtJL03OGfbg&feat=email#



O Museu Kolumba é uma interessante combinação de arquitetura, Patrimônio e artes plásticas. Localizado no centro histórico de Colônia, o edifício projetado pelo arquiteto suíço Peter Zumthor foi construído e de 2003 a 2007 sobre as ruínas da igreja românica de Santa Kolumba , destruída durante a Segunda Guerra Mundial. Zumthor foi agraciado em 2009 com o Prêmio Pritzker de arquitetura. O museu abriga a preciosa coleção de artes plásticas da Arquidiocese da cidade.
No nível térreo percorremos as escavações da igreja deixadas à mostra sobre uma extensa passarela de madeira. Delgados pilotis de concreto proporcionam cobertura à ruínas, dramaticamente iluminadas e protegidas do exterior por paredes de alvenaria vazada por cobogós. Eles nos trazem o frio intenso de fevereiro e com ele o silencio de um passado ainda presente nos restos arquitetônicos do templo.
Subimos uma estreita e longa escadaria ao encontro de sua arquitetura neutra, mas com personalidade bastante para definir espaços claros,que possibilitam um contato com as obras de arte em um verdadeiro ato de meditação.
Quando percorremos as salas propositalmente vazias, a cor bege claro argamassada se funde em todos os planos - parede teto e piso. O contraste se dá apenas entra as peças da coleção do museu diocesano, estrategicamente posicionadas ( e contrapostas). Deparamos-nos, por exemplo, com uma pequena pintura a óleo do início do século XIX frente a frente com uma escultura moderna em concreto na parede oposta. Entre as duas obras apenas o vasto espaço iluminado por grandes planos de vidro e aço. A arquitetura passa a fluir como o elemento catalisador do contraste entre as obras , que vão desde retábulos barrocos a instalações contemporâneas. Os altura do pé-direito muda nos diversos ambientes, contribuindo para o processo de apreciação das obras de arte.
Externamente a construção se expressa através de planos e volumes sóbrios, marcados pela leve textura dos cobogós, valorizando e também permitindo apreciar do lado de fora excertos das ruínas históricas incorporados à sua superfície.


Mais sobre museu em:




Sobre Peter Zumthor:







Wednesday, March 02, 2011

O Porto

Igrejas tatuadas VI

 
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O Porto

Igrejas tatuadas V

 
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O Porto

Igrejas tatuadas IV

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O Porto

Igrejas tatuadas III

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O Porto

Igrejas tatuadas II



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O Porto

Igrejas tatuadas I

Dentre as inumeras impressoes de uma caminhada pela cidade antiga, fica ressaltada a personalidade de suas igrejas. O barroco ilustrado da azulejaria portuguesa, que traz para a fachada a narracao do rito. A fachada se faz entao de pele onde se ira tatuar para a eternidade a trajetoria da cidade.
Munique, 02.II.2011