por LUZANTONIS

Espaços que geram palavras...

Monday, December 19, 2011


O Rio Feio II

Memória perimetral




Esta e outras fotos em:


Com a demolição do elevado da Perimetral, o Rio de Janeiro perpetua o título de cidade do ”bota abaixo”. De tempos em tempos, marcos arquitetônicos  de eras desvalorizadas são radicalmente subtraídos da paisagem urbana em nome de um perene ideal de modernidade utilizado pelas classes políticas como sedutora moeda para a conquista  da  opinião pública.

Meu pai,  em uma  de nossas conversas de finais de semana, não conseguiu esconder a sua decepção com a confirmação da notícia da demolição. Octogenário engenheiro das eras getulista e juscelinista, ele se recorda  de que  na época  de sua construção a sexagenária Perimetral foi recebida como uma façanha tecnológica, o elo definitivo de ligação entre as  regiões norte e sul da cidade.  É verdade que próprio viaduto, em sua escala quilométrica, foi também instrumento de obliteração do passado, se  superpondo, por exemplo, à região do Cais da Prainha , arrasando  Mercado Municipal da Praça XV e mutilando visualmente  em sua subida a  antiga Casa do Trem (atual Museu Histórico Nacional).

 Hoje a Perimetral passa a pertencer  ao grupo de homúnculos que obstrui o avanço da cidade em sua eterna busca de auto-afirmação no cenário mundial. Os seus predicados de outrora não são levados em consideração. O viaduto tido como feio, pesado, desvaloriza a região do Cais do Porto e até prejudica o fluxo do trânsito. A sua remoção passou a ser vital para o desenvolvimento local, na perspectiva da  Copa e dos Jogos Olímpicos. A memória do que a Perimetral foi um dia nada mais representa e, lamentavelmente, não justifica a sua preservação no tecido urbano. A ela será negada condição de patrimônio arquitetônico da cidade. É inevitável  a lembrança da abertura da antiga Avenida Central  (atual Rio Branco) a pouco mais de cem anos, quando estes mesmos valores ( ou a falta deles?)  já  norteavam a evolução do espaço urbano carioca.

Poucas foram as manifestações, apenas algumas a nível acadêmico, contrárias à demolição do elevado.  Em tempos de preocupação com emissões de  carbono e preservação de recursos naturais,  é evidente que esta ação irá custar  uma enormidade em termos de consumo energético. A  este aspecto está sendo superposto o discurso positivista  do desenvolvimento e da geração de empregos e de lucro, sempre tido como justificativa  irrefutável para o desgaste  que uma ação desta magnitude representa.

Perde-se então mais uma vez a oportunidade de ser tomar uma atitude para com a cidade em conformidade com a sua memória. A Perimetral  espelha em  sua presença os ideais de uma era e só isso já justificaria  a sua preservação.  O fato de ela constituir um provável obstáculo aos planos de desenvolvimento configura sim o desafio estimulante de introduzi-la neste processo,  para que ela possa vir a ser integrante da nova imagem do Cais do Porto. Propostas não faltam, e, levando em consideração as diferenças geoeconômicas, alguns exemplos de intervenção semelhantes  feitas no exterior comprovam a viabilidade da preservação da Perimetral como estrutura viva e participante na modernização da infra-estrutura urbana.  

Sobre a história da Perimetral:


O Highline Park em Nova York, exemplo de proposta de uso alternativo para este tipo de espaço:

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